Domingo, 11 de Fevereiro de 2007

Teoria

 

“Ética e Moral”

 

DISTINÇÃO ENTRE ÉTICA E MORAL

 

Ambos os termos têm o mesmo significado de origem, embora Moral derive de “mores” (costumes) e Ética derive de “ethos” (carácter ou modo de proceder). Tanto um como o outro dizem respeito à distinção entre o bem e o mal, entre a boa e a má acção. O ser humano tem consciência dos seus actos e por isso é capaz de fazer esta distinção. Como diz SAVATER, “entre todos os saberes possíveis existe pelo menos um que é imprescindível: o de que certas coisas nos convêm e outras não ”. Como ser moral o ser humano é capaz de decidir, ou de acordo com a moral vigente (Costume e Norma) ou de acordo com a sua reflexão pessoal (Ética).

 

Por Moral designa-se o conjunto de princípios, juízos, normas ou prescrições aceites por uma sociedade. O que convém ou não à sociedade (bem ou mal) está prescrito, muitas vezes imposto como obrigatório. Por exemplo, entrar de boné numa Igreja não convém, é mal visto pela sociedade e pelos crentes. Mas ajudar um amigo a resolver um problema é agir bem. A Moral tem a ver com a decisão do sujeito perante uma situação prática, na qual ele recorre às normas (leis comuns), para justificar a sua escolha.

 

Mas para além da Moral, há uma dimensão pessoal, normalmente designada por Ética. O Indivíduo pensa a sua própria acção (reflexão) de modo a decidir, por si próprio, de acordo com o que convém, ou seja, de acordo com aquilo que ele considera ser uma boa acção. Por exemplo, diz SAVATER, “ a mentira é geralmente uma coisa má, porque destrói a confiança na palavra e deixa as pessoas de mal umas com as outras”. Mas mentir “para se fazer um favor a alguém”, diz o autor, pode ser útil ou até benéfico.

Assim, a Ética é a reflexão que uma pessoa faz e que a leva a tomar uma decisão que considera apropriada, mesmo que vá contra os Costumes e contra as Normas geralmente aceites. Por exemplo, roubar uma Farmácia é moralmente incorrecto, mas roubar para dar o medicamento à mãe que está doente e que não pode pagar, pode ser aceitável do ponto de vista do indivíduo e da situação. Assim, o jovem que roubou a Farmácia pode justificar a sua acção, encontrando uma razão (motivo) para o seu acto. Perante as normas que reprovam o acto de roubar, o jovem escolheu, ou seja, preferiu (preferência) roubar, em nome da saúde de sua mãe. O mau às vezes parece tornar-se mais ou menos bom e o bom tem, em certas situações a aparência de mau.

Sobre este assunto, SAVATER diz que “saber viver não é lá muito fácil porque existem diversos opostos em relação ao que devemos fazer ”. E a Moral e a Ética são dois dos muitos critérios, que existem, quando queremos tomar uma decisão. Para isso contribui a nossa capacidade de gerir as nossas acções, em função do que achamos ser a boa acção. Por um lado, temos os Costumes, as Regras (normas) ditados pela cultura da sociedade em que vivemos; por outro, as situações que vivemos no nosso dia a dia e que nos apelam para uma escolha pessoal, independentemente daquilo que os outros considerem conveniente.

 

 NORMA E INTENÇÃO

 

NORMA é uma espécie de “lei” (que não está escrita), que indica ao indivíduo regras de acção ou de conduta, que lhe permitem agir bem, em relação aos outros. Por exemplo, “não matar” é uma regra moral.

 

INTENÇÃO de uma acção é o que leva o indivíduo a agir de uma determinada forma.

A intenção comporta a pergunta sobre o porquê de uma acção: porque faz e para que faz. Sendo assim, a intenção é a razão ou o motivo, a partir do qual o indivíduo justifica para si próprio o seu modo de agir. A esta operação chama-se reflexão ética, pois é o que permite ao ser humano pensar a sua acção em função de um fim desejável, que ele escolheu, por considerar conveniente.

 

Há autores que valorizam a intenção da acção, como é o caso de KANT. Para ele o que conta é a acção, mesmo que ela vá contra as normas morais. O dever de agir (Ética deontológica) sobrepõe-se às consequências da acção. Uma intenção pode ser boa, no entanto pode ter consequências desastrosas; ajudar a velhinha a passar a estrada é uma boa acção, suposta numa intenção boa de lhe facilitar a vida; mas se a velhinha for atropelada, as consequências são necessariamente más. Para um defensor de um Ética Teleológica (o caso de Aristóteles), as consequências desta acção são eticamente reprováveis. Para uma Ética Deontológica, o valor da acção reside na intenção da acção, que era à partida boa - ajudar a velhinha a passar a estrada.

 

 

ÉTICA DEONTOLÓGICA (KANT) E

ÉTICA TELEOLÓGICA (ARISTÓTELES)

 

São duas perspectivas ou teorias sobre a acção ética.

 

A ÉTICA DEONTOLÓGICA, defendida por Kant, valoriza a intenção da acção, de acordo com o dever, independentemente das consequências.

Deontologia significa “teoria do dever” ou “estudo do que convém”, em termos de acção. Agir por dever e em função de uma boa intenção são os princípios que determinam a boa acção. Agir bem implica uma boa intenção e uma boa vontade. O que é que isto quer dizer? A acção é boa se a intenção (razão ou motivo) for boa e se ela for pensada como boa vontade, ou seja, se for universal. Será universal se o que decidirmos for bom para nós próprios e para os outros (todos). Se não for uma acção egoísta ou só pensada em função de mim próprio terá uma dimensão ética, de maneira que, como diz KANT: “age de tal maneira que uses a humanidade tanto na tua pessoa como na pessoa de qualquer outro sempre como um fim e nunca simplesmente como um meio”. Por outras palavras, devemos tratar os outros como nos tratamos a nós próprios; assim se compreende a dimensão universal dos nossos actos, defendida por KANT. Por isso se diz que a ética de KANT é uma Ética Formal: não indica normas concretas de conduta, mas dá indicações gerais de como devemos agir com os outros. Não diz como em concreto devemos fazer para tratar os outros como “fins em si”, do tipo, como fazer para a velhinha passar a estrada, mas, em geral, sugere posturas universais aplicáveis a todas as situações (devemos tratar os outros como pessoas que têm valor por si próprias e que nunca devemos usar para nosso benefício).

 

A ÉTICA TELEOLÓGICA, defendida por autores com ARISTÓTELES é uma Ética consequencialista. Isto significa que a boa acção se deve medir pelas consequências. Ou seja, o fim da acção é o que determina todo o agir. E o fim último e mais importante é a felicidade. Todos os homens se devem reger por esta finalidade.

Teleologia significa o “estudo do fim”; aliás, “teleos” significa fim, o fim da acção. Em concreto, numa acção concreta, o mais importante não é saber se a intenção é boa, mas sim se teve boas consequências. Por isso se diz que é uma Ética do Concreto, que diria com se deve atingir a felicidade e com se deveria ajudar a velhinha a passar a estrada.

Para ARISTÓTELES, o ser humano deve procurar o fim adequado à sua natureza (Humana) e esse fim é a virtude e a felicidade. Nos actos humanos devemos procurar agir em equilíbrio de maneira a não prejudicar os outros. Um acto virtuoso é um acto equilibrado que não peca por defeito nem por excesso. Assim, a coragem excessiva pode levar à morte e a cobardia pode resultar da mesma forma; neste caso a ponderação da acção com vista ao fim que se deseja é a melhor das acções, sendo o meio-termo a melhor solução. Em Ética e segundo este autor, no meio é que está a virtude.

        (Escrito por Luís Mourinha)

publicado por filosoficamentefalando às 19:26
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De Sabrina a 22 de Abril de 2009 às 18:31
como saber se tu é uma fonte confiável? poderia publicar uma bibliografia
De filosoficamentefalando a 18 de Abril de 2010 às 19:15
Ola Sabrina..respondo ao teu comentário feito ha um ano atras...para ti e para todos, nao sei se serei uma fonte fiavel,mas a verdade é que ja fui estudante de Filosofia como voces o são e tudo o que escrevo é com base em alguma coisa e em alguem superior a mim,não são invençoes minhas...a Filosofia é a minha grande paixão, por isso espero ajudar alguem e alguma dúvida que tenham,se eu puder ajudar fico muito contente. Para contactos utilizem o meu mail..milenesofia_bronze@spo.pt
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